'Prédio verde' é opção mais lucrativa a longo prazo, diz diretor de ONG

No país há 10 anos, a GBC Brasil (Green Building Council), ONG responsável por certificar prédios sustentáveis com o selo Leed (Liderança em Energia e Projeto Ambiental, na sigla em inglês), já concedeu a chancela a mais de 400 edifícios; número que colocou o país na quarta posição entre as 165 nações onde o World Green Building Council atua.

Entre os dias 8 e 10 de agosto, a organização realiza a 8° Green Building Brasil Conferência Internacional e Expo, na São Paulo Expo, com a expectativa de receber 20 mil pessoas.

Em entrevista, Felipe Faria, diretor da GBC Brasil, comenta os principais avanços e desafios dos prédios sustentáveis no país e defende esse tipo de construção como o mais lucrativo a longo prazo. Veja os principais trechos.


Felipe Faria, diretor da GBC Brasil, em São Paulo


Folha - O que é um prédio sustentável na concepção da GBC Brasil?

Felipe Faria - É um edifício que maximiza os ganhos econômicos ao mesmo tempo em que mitiga os impactos socioambientais negativos, reduz o uso de recursos naturais e melhora a qualidade de vida e o bem-estar de quem o ocupa. Para isso, todas as fases da vida do edifício devem ser pensadas: dos impactos para o entorno durante a construção à conscientização dos ocupantes, porque no final das contas quem aciona a válvula de descarga ou faz mau uso da eletricidade é o usuário.


A maior parte dos prédios certificados com o selo Leed é de corporativos. Por que é mais difícil levar esse conceito para edifícios residenciais?

Uma mudança de foco para a sustentabilidade passa pela comprovação de que é possível alinhar ganhos sociais, ambientais e econômicos. Crescemos no segmento de prédios corporativos porque os investidores notaram resultados positivos como a maior velocidade de ocupação e a melhor retenção do cliente.

A maior barreira no setor residencial é a percepção do valor. O acréscimo de custo na construção de um prédio sustentável é de até 6%, mas os benefícios da eficiência, com a economia de recursos, são muito maiores. Quando o proprietário receber essa mensagem conseguiremos aumentar a demanda no setor.


Os prédios autossuficientes em energia são uma tendência. Como o GBC Brasil trata esses edifícios?

A World Green Building Council convidou a GBC Brasil e nove outros conselhos nacionais para liderar a criação de uma nova certificação para esses edifícios. Com o apoio do Instituto Clima e Sociedade, criamos um comitê multidisciplinar e pretendemos finalizar o protocolo até junho deste ano. Ele deve ser algo complementar ao selo Leed.


Como o mercado da construção sustentável se comportou na crise?

A construção civil foi muito prejudicada. A GBC Brasil foi afetado também; nossa receita vem da anuidade das empresas associadas e cursos que realizamos, principalmente. Mas 2016 foi o segundo melhor ano em nossa história, com 204 novos prédios registrados -o melhor ano foi 2012. A percepção de que há ganhos econômicos está mais forte. Crescemos porque somos a melhor opção e a mais lucrativa a longo prazo. Esse é um dos motivos para o aumento, no último ano, de 30% na certificação de prédios já construídos que fizeram o retrofit.


Quais os resultados dos prédios nos quais foi feito o retrofit?

A sede do BNDES, no Rio, passou por esse processo e apresenta hoje uma redução no consumo de energia entre 20% e 25%. É importante lembrar que esses resultados variam para cada caso e que um prédio antigo dificilmente atinge os mesmos níveis de eficiência de um novo.


Reabilitar um prédio antigo sai caro?

Estamos criando uma plataforma que compara o desempenho de prédios semelhantes mundo afora. A partir disso pretendemos criar um processo de certificação facilitada de prédios existentes que permite que as melhorias sejam feitas em partes. A certificação poderá ser concedida de acordo com o desempenho em tempo real.


Raio-x

Nome: Felipe Faria

Nascimento: 4 de julho de 1981

Formação: Direito, com especialização em direito da economia e da empresa pela FGV

Cargo: Diretor da GBC Brasil e presidente do comitê de GBCs das Américas



Autor: Everton Lopes Batista, para Folha.uol, em 21/05/2017.

Imagem: Divulgação.