Governo quer fortalecer controle sobre custo de obras públicas
O governo deve anunciar até o próximo mês uma portaria criando grupo de trabalho interministerial para definir uma estratégia nacional de implantação de uma ferramenta que controla os custos e todo o processo de construção. Ao tornar precisos os cálculos de necessidades e custos de insumos e produtos usados em obras, o sistema de Modelagem de Informação na Construção (BIM, na sigla em inglês) é uma plataforma digital vista como um caminho para diminuir os aditivos contratuais em obras públicas, reduzir desperdícios e dar mais eficiência ao gasto.
O grupo interministerial deve ainda este ano formular a "estratégia nacional do BIM". O secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Igor Calvet, no entanto, disse ao Valor que a implantação efetiva do sistema no Brasil levará alguns anos. Ele cita como exemplo o Reino Unido, que só depois de cinco anos tornou obrigatória o uso da ferramenta nas obras do governo, levando a redução de custo da ordem de 33% nas obras e diminuição de 50% no tempo de execução dos projetos.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, tem sido o interlocutor do governo nesse processo de buscar massificar o BIM. Para ele, o sistema vai gerar uma verdadeira "revolução" no setor e no gasto público. "Ele vem para dar maior eficiência, maior transparência. No limite, vai permitir que o cidadão, em qualquer lugar, olhar pela internet como está funcionando o processo de um terminal de passageiros em construção lá em Natal", argumentou.
Segundo ele, a ferramenta facilitará muito a vida do Tribunal de Contas da União (TCU), que poderá usar o sistema para monitorar as obras. "Não tem como ter algo mais transparente que isso para fiscalizar", disse. "O sistema não permite gambiarras."
A ideia da indústria é que a portaria criando o grupo interministerial seja assinada no Encontro Nacional da Indústria da Construção, que começa em 24 de maio. Alinhada com o governo, o setor quer que a implantação seja feita "gradativamente", diz Martins, permitindo que em cinco anos esteja massificada. O executivo defende a criação de linha de crédito para viabilizar a implantação nas empresas do setor, mas a proposta ainda não está em discussão no governo.
Martins explica que a ferramenta permitirá não só calcular precisamente os custos conforme o tipo de material a ser usado, mas também segundo outros critérios, como a capacidade de vedação de som de uma janela, a adequação de uma porta para determinado ambiente e o gasto adicional ou a menor de cada opção.
Mas ele ressalta que é preciso envolver não só as construtoras, mas toda a cadeia produtiva de fornecedores, que deverão abastecer a chamada "biblioteca BIM". Tratase de uma plataforma na qual estarão catalogados uma série de produtos utilizados na construção, não só com especificações técnicas, mas também com os preços. Além disso, o serviço público terá que ser treinado para usála.
Segundo Calvet, o governo já está trabalhando na preparação de uma "biblioteca BIM" nacional, que deve estar pronta em agosto. Inicialmente, ela deverá ser hospedada na estrutura virtual do próprio ministério, mas em determinado momento terá que ir para outro lugar, pois será uma base de dados muito grande. Ele avalia que essa plataforma poderá ser um instrumento para a venda de produtos de construção brasileiros a outros países.
Calvet ressalta que a implantação do BIM está inserida dentro da estratégia do governo de fomentar o aumento da produtividade e eficiência na economia, além de ser um apoio para maior transparência e qualidade do gasto público.
Para Martins, da Cbic, a nova realidade do setor de construção, após o fim do boom verificado até 2014, vai exigir mais eficiência das empresas, que antes conseguiam "mascarar" seus problemas por conta da alta de preços que estava ocorrendo continuamente antes da forte recessão. "O crescimento agora será vegetativo. A margem das empresas estará diretamente ligada à sua eficiência. Será preciso produzir mais barato", afirmou.
Autor: Valor Econômico, por Fábio Graner, em 24/04/2017.
Imagem da Internet